25-novembro-2025
Não. Esse circovírus dos psitacídeos (araras, papagaios e periquitos), conhecido como PBFDV (Doença do Bico e das Penas dos Psitacídeos), afeta apenas papagaios, araras, periquitos e outros psitacídeos. Não representa risco para humanos, cães, gatos ou outros animais (Murphy, 2025).
Os psitacídeos neotropicais (como os do Brasil) parecem ser mais resistentes ao vírus em comparação com espécies da África, Ásia e Austrália. Muitos conseguem montar uma resposta imunológica eficaz, combater o vírus e até eliminá-lo (Phalen, 2016; Raidal, 2016).
Ainda não é possível afirmar com certeza. Mas sabemos que:
Todas as ararinhas-azuis são testadas para o circovírus de psitacídeos antes de serem transferidas para o criadouro e depois quando chegam e todas testaram negativo para o vírus.
As 41 aves que vieram para o Brasil em 2025 passaram por um rigoroso processo com acompanhamento por autoridades veterinárias da Alemanha e Brasil com: 3 meses de isolamento na Alemanha; 31 dias de quarentena oficial na Alemanha e 21 dias de quarentena no Brasil, sem registro de sintomas, chegando ao criadouro apenas no dia 18 de fevereiro de 2025.
O primeiro caso foi detectado em um filhote nascido na natureza. De acordo com a literatura científica o período de incubação da doença é de 20 a 25 dias. Ou seja o filhote teve contato com a doença quando os animais estavam na Alemanha ou em Petrolina.
É sabido que o circovírus de psitacídeos está presente em populações de psitacídeos de cativeiro e em centros de resgate e reabilitação no Brasil.
Ou seja, pode ter origem aqui no Brasil.
Não, isso é uma informação falsa.
Todas as aves que vieram da Alemanha foram testadas e tiveram o resultado negativo comprovado pelo laboratório na origem. Houve um caso de falso-positivo informado pelo laboratório. Essa ave já passou por 6 testes e todos foram negativos. Os testes são acompanhados ou mesmo realizados pelas autoridades governamentais, comprovando que a ave nunca esteve doente.
Além disso, essa ave nunca este em contato com as aves que tiveram resultado positivo.
Embora o circovírus já tenha sido detectado no Brasil desde os anos 1990 (Araújo et. al, 2015) , até recentemente todos os registros confirmados vinham apenas de aves em cativeiro — seja em criadouros, comércio ilegal ou centros de triagem.
Isso acontece porque a vigilância sanitária sempre se concentrou nas aves domésticas ou de cativeiro, principalmente por razões comerciais, sanitárias e de combate ao tráfico de animais. Já o monitoramento de aves livres na natureza sempre foi raro, pontual ou inexistente, devido à dificuldade de acesso, custo elevado dos testes moleculares e à baixa prioridade histórica dada a esse tipo de investigação.
Além disso, o circovírus pode circular de forma silenciosa, sem causar sintomas clínicos visíveis, especialmente em espécies nativas da América do Sul, como papagaios e araras, que tendem a ser mais resistentes (Murphy, 2025). Sem sintomas clínicos aparentes, a infecção pode passar despercebida se não houver testagem laboratorial. Coloração de penas brancas pode estar associadas a outros fatores.
Foi apenas nos últimos anos que começaram a surgir os primeiros estudos com foco específico em aves silvestres, como os trabalhos de Pires (2021), Batista et al. (2021), Gonsalves Coelho (2025) e Garcia (2025) — todos muito recentes e reveladores. Isso mostra que o conhecimento sobre a circulação do vírus em ambientes naturais ainda está em construção.
No caso da ararinha-azul, por se tratar de uma espécie emblemática e extremamente rara, o projeto de reintrodução realiza um monitoramento sanitário constante e rigoroso — muito mais intenso do que o feito com qualquer outra espécie silvestre. Foi graças a esse acompanhamento técnico detalhado que conseguimos detectar a presença do vírus em um filhote nascido na natureza e notificar prontamente os órgãos ambientais.
Os órgãos ambientais competentes foram notificados sobre a detecção do circovírus e todas as medidas de biossegurança para prevenir a dispersão do vírus para a população cativa foram adotadas, como:
Isolamento das aves negativas;
Aumento das medidas sanitárias no manejo;
Suspensão das solturas;
Construção de barreiras para evitar o contato entre as aves de vida livre as aves de cativeiro;
Testagem regular de todo o plantel.
Além disso, atendendo à determinação do órgão ambiental federal, foi realizada no dia 02 de novembro de 2025 a captura das 11 aves que estavam em vida livre.
As ararinhas-azuis, assim como deve ocorrer com os demais psitacídeos do Brasil, apresentam alta capacidade de resposta imune ao circovírus.
Todas as aves dos recintos de descanso, reprodução e agregação testaram negativo para o vírus.
Das 92 ararinhas-azuis, apenas 15 tiveram resultados positivos para o circovírus. Dessas 01 foi o filhote de vida livre, a primeira ave com teste positivo, e as outras 14 que estavam no recinto de soltura, no ambiente natural, sendo preparadas para reintrodução.
Os testes realizados em setembro/25 indicaram que dessas 15 aves positivas, 14 já reagiram ao virus e estão negativas. Restando apenas 01 ave positiva.
Nenhuma ave morreu, todas apresentam ótima capacidade de voo e se alimentam bem.
Esperamos em dezembro informar que o vírus não está mais ativo no criadouro.
No começo desse ano haviam 12 aves em vida livre. O filhote que apresentou resultado positivo para o teste em abril foi capturado e hoje é mantido isolado de todas as demais aves na ala veterinária do criadouro.
Entre as restantes 11 aves em vida livre, três apresentaram penas brancas, um sintoma clínico que foi associado à infecção de circovírus, mas que pode não ser causada pelo vírus.
Por meio de coletas não invasivas, amostras de fezes de 9 aves de vida livre foram enviadas para exames e todas tiveram resultado negativo.
Ou seja, o vírus não tem representado um risco para a sobrevivência desses animais até o momento. E nenhuma morreu.
Entretanto, por medida preventiva o órgão ambiental determinou a captura das aves de vida livre. Esses 11 animais foram capturados no dia 02 de novembro de 2025.
Os testes com amostras das onze ararinhas para circovirus, foram realizados por laboratório de alto padrão detectaram o vírus presente em apenas 2 das 11 ararinhas, sendo que não foi registrado no sange das aves, podendo até mesmo ser uma contaminação ambiental das amostas.
Novos testes serão realizados para determinar os próximos passos.
Os animais de vida livre passarão por 3 coletas de amostras com intervalo de 30 dias cada. Se todos os resultados derem negativos, poderão voltar à natureza.
Os demais animais em cativeiro passarão pelo mesmo processo de testagem para segregar animais positivos de negativos.
Referências:
1) Araújo AV, et al. Molecular Diagnosis of Beak and Feather Disease in Native Brazilian Psittacines, Rev. Bras. Cienc. Avic. 17 (4) • Oct-Dec 2015 • https://doi.org/10.1590/1516-635X1704451-458
2) Batista, Aksa & Pereira, Arickson & Júnior, Fabiano & Gurgel, João & Pereira, Lucas & Araújo, Bruno & Moreira, Amanda & Medeiros, Nayara & Freitas, Carlos. (2021). Generalized aptheria and automutilization of members in budgegarigar (Melopsittacus undulatus SHAW, 1805) presenting circovirosis in the Northeast of Brazil. Research, Society and Development. 10. e200101320864. 10.33448/rsd-v10i13.20864.
3) Doneley B. Psittacine beak and feather disease. In: Doneley B: Avian Medicine and Surgery in Practice: Companion and Aviary Birds, 2nd edition. CRC Press, 2016, Pag 169-170. ISBN: 978-1-4822-6020-5
4) Garcia, Yasmin Luisa Neves Lemes (a). Monitoramento de influenza aviária e circovírus na região de São José do Rio Preto e litoral do Paraná. Dissertação (Mestrado em Microbiologia). 2025 – Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas (Ibilce), São José do Rio Preto, 2025. https://hdl.handle.net/11449/260663
5) Gonsalves Coelho HL: Detecção de circovirus dos psitacideos em aves silvestres em cativeiro no Brasil (Detection of psittacine circovirus in captive wild birds in Brazil). Doctoral Thesis, 2025. http://hdl.handle.net/1843/81976
6) Jakob-Hoff, R. M., MacDiarmid, S. C., Lees, C., Miller, P. S., Travis, D., & Kock, R. (2014). Manual of procedures for wildlife disease risk analysis (Vol. 2014, p. 149). Paris, France: World Organisation for Animal Health.
7) Martens JM, Stokes HS, Berg ML, Walder K, Raidal SR, Magrath MJL, Bennett ATD. 2020. A non-invasive method to assess environmental contamination with avian pathogens: beak and feather disease virus (BFDV) detection in nest boxes. PeerJ 8:e9211 http://doi.org/10.7717/peerj.9211
8) Murphy B. Circoviruses. In: Beaufrère H & Graham JE: Blackwell’s Five-Minute Veterinary Consult 2nd edition. Wiley 2025. Pag 85-86. ISBN: 9781119870579
9) Olivares RWI, Bass LG, Sáenz-Bräutigam A, et al. Psittacine beak and feather disease in 2 free-living great green macaws: a case report and literature review. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation. 2025;37(4):666-673. https://doi.org/10.1177/10406387251333410
10) PIRES, A. S. (2021). Detecção molecular de circovírus em aves de vida livre do Estado de Mato Grosso, Brasil.
11) Philadelpho, N.A., Chacón, R.D., Diaz Forero, A.J. et al. Detection of aves polyomavirus 1 (APyV) and beak and feather disease virus (BFDV) in exotic and native Brazilian Psittaciformes. Braz J Microbiol 53, 1665–1673 (2022). https://doi.org/10.1007/s42770-022-00785-3
12) Raidal S. Psittacine beak and feather disease. In: Speer BL: Current Therapy in Avian Medicine and Surgery, 1st edition. Elsevier 2016. Pag 51-59. ISBN: 978-1-4557-4671-2
13) Stragliotto Pires A: Detecção molecular de circovírus em aves de vida livre do Estado de Mato Grosso, Brasil. s.n; 25/11/2021. 70 p.-Thesis em Pt | VETTESES | ID: vtt-221739; https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/vtt-221739